Desde 2013 o artista catarinense Bruno Barbi vem pintando personalidades negras, rostos criados por ele ou homenageando gente que faz a luta diária de Florianópolis. De forma independente e com recursos próprios, criou um circuito de arte urbana na região do centro histórico, que foi ganhando outras áreas com o tempo, como o alto dos morros e o centro expandido, além de bairros mais afastados, num intuito de chamar a atenção de uma cidade que teve e tem como postura o apagamento sistemático do seu povo negro, parcela significativa da população da cidade, com destaque fundamental na construção urbana, social e cultural da capital.
“Na região do centro histórico, o povo negro morava, trabalhava na construção civil, no pequeno comércio de rua e na lavação e costura de roupas para a elite local. Com o avanço da urbanização, a especulação imobiliária e o interesse da burguesia da região, o processo de higienização do centro empurra essa população para os morros, continentes e bairros periféricos. Com meu trabalho, busco contribuir no resgate histórico, na contação dessa história, na preservação da memória e em alguma medida, oferecer a devolução do território, na medida em que se vêem, se identificam, se valorizam e se sentem pertencentes à cidade”, explica o artista.
Este ano o Street Art Tour convidou Bruno Barbi para sistematizar a restauração das obras do centro histórico. Nesse raio da cidade que excluiu a população negra, foram mapeadas 16 pinturas em armários telefônicos que serão recuperadas, refeitas ou recriadas.
As intervenções urbanas constituirão o CIRCUITO CIDADE NEGRA, que inicia nesta quarta-feira (16). Serão dois meses de produção que resultarão ainda em um Documentário e em um Tour Guiado. Tudo isso poderá ser acompanhado pelas redes sociais do Street Art Tour.
Bruno Barbi irá homenagear, em sua grande maioria, mulheres negras do campo de luta de hoje. Por meio de seleção pessoal e afetiva do artista, 16 nomes locais e nacionais de negras e negros, de todas as gerações, serão pintadas nas caixas de telefonia da região que fica entre o Maciço do Morro da Cruz e o terminal Rita Maria para mostrar que ‘FLORIANÓPOLIS TAMBÉM É NEGRA’.