O projeto de paisagismo do histórico Edifício Romi 56, desenvolvido pelo escritório Patricia Akinaga, recebeu uma menção honrosa na primeira edição do Prêmio ABAP Roberto Burle Marx. A premiação, que aconteceu durante o 7º Congresso Internacional de Arquitetura da Paisagem (CIAP), em Curitiba, foi criada com o objetivo de reconhecer, promover e divulgar a produção de arquitetos e urbanistas no campo da Arquitetura da Paisagem, homenageando Burle Marx, o maior paisagista brasileiro.
Selecionado na modalidade obra construída de arquitetura da paisagem, na categoria residencial, o paisagismo do Romi 56 estabelece um diálogo harmonioso com as linhas arquitetônicas do edifício. Este diálogo se estende pelo desenho dos canteiros em faixas lineares até a calçada, e enfatizam a conexão dos espaços internos e externos do empreendimento com um fechamento em vidro permitindo visualização dos pedestres para o edifício e o seu jardim. A criação de elementos de transição entre o moderno e o contemporâneo demonstra como um projeto bem concebido e integrado pode adaptar e preservar o uso de edifícios de grande relevância histórica para São Paulo e garantir a sua permanência na paisagem da cidade.
Na fachada principal do edifício, o escritório optou por forrações que formam uma composição estética das linhas por meio de diversos tons de verde e texturas de folhagens, bem como do contraste com os pedriscos nas faixas de drenagem.
As árvores existentes, como as duas palmeiras, foram preservadas. Além disso, foram acrescidas espécies da Mata Atlântica, como o ipê roxo de bola, a aroeira salsa e jaboticabeira. As forrações e arbustos também são, em sua maioria, de espécies nativas, mas misturam-se à espécies exóticas com forte relação com o modernismo, sobretudo cultivadas e utilizadas por Burle Marx. Alguns exemplos são o lírio-do-amazonas, a ixora, a moreia e a tumbérgia arbustiva, que têm características plásticas de textura e coloração tropicais.
O projeto trabalhou com o equilíbrio entre os planos horizontal e vertical, inserindo trepadeiras na fachada do prédio e priorizando uma geometria mais orgânica para trazer amplitude aos espaços na parte posterior do jardim.
(Espécies nativas da Mata Atlântica se integram às plantas tropicais, características dos projetos criados por Burle Marx. Foto: Marcelo Scandaroli)
Projetado para integrar-se ao entorno urbano, o projeto de paisagismo do Romi 56 criou uma continuidade visual e funcional entre o espaço privado e a calçada pública. As árvores existentes estrategicamente mantidas promovem sombra, reduzem a percepção da poluição sonora e melhoram a qualidade do ar. Patricia Akinaga, sócia-diretora do escritório de arquitetura, destaca que o objetivo do projeto foi integrar toda a história do Edifício Romi à paisagem contemporânea de São Paulo. “Ficamos muito felizes com o reconhecimento desse trabalho. Buscamos sempre criar espaços que promovam bem-estar e a preservação dos bens históricos e da identidade cultural urbana de forma inovadora, e acredito que alcançamos isso de forma muito satisfatória com o Romi 56”
Histórico do Edifício Romi 56
O Edifício Romi 56, tombado em 2004 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), atualmente é um prédio residencial. No entanto, sua história remonta à década de 1960, quando foi concebido como um dos escritórios das Indústrias Romi – pioneira no mercado automobilístico brasileiro, e responsável pelo lançamento do primeiro automóvel produzido no Brasil, o Romi Isetta.
Localizado em um ponto estratégico de São Paulo, o edifício foi um marco de inovação e desenvolvimento industrial na época. Em 2019, o empreendimento foi incorporado pela Vivenda Lare e passou por uma reformulação conduzida pelo escritório Paulo Lisboa Arquitetura. Esta transformação adaptou o edifício às necessidades contemporâneas, mantendo sua relevância histórica e integrando-o de forma harmoniosa à paisagem urbana de São Paulo.
O projeto de paisagismo do Edifício Romi 56 exemplifica como a integração entre arquitetura e paisagismo pode resgatar e preservar a memória histórica de edificações emblemáticas. Promovendo uma fusão estética e funcional, ele beneficia a paisagem urbana e a herança cultural da cidade, demonstrando a importância de projetos bem planejados e executados no campo da Arquitetura da Paisagem.
Sobre o escritório
A Patricia Akinaga é uma empresa com escritórios em São Paulo e Salvador, que atua com projetos nacionais e internacionais de arquitetura paisagística, urbanismo ecológico e planejamento ambiental.
Fundado em 2005, o escritório já conquistou diversos prêmios e tem ampla experiência com planejamentos de pequeno à grande porte, em diversas tipologias do setor público e privado. Já assinou grandes projetos como a revitalização e restauração do jardim histórico da Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, o Parque Estadual Jequitibá, no estado de São Paulo, e o paisagismo do Bosque Oswaldo Cruz, em São Luiz do Piratinga.
Do pequeno lote às grandes glebas, as intervenções da Patricia Akinaga criam, transformam e restauram paisagens naturais ou urbanas conservando espécies locais da flora e fauna, preservando o patrimônio, melhorando a qualidade de vida nos grandes centros e mitigando os efeitos das mudanças climáticas.
O escritório tem como principal objetivo contribuir para a construção de cidades mais justas, resilientes e sensíveis às diferenças. Ao longo de quase 20 anos, foram mais de 14 milhões de m² de áreas projetadas, mais de 105 mil árvores plantadas, projetos desenvolvidos em 84 cidades e cerca de 12 milhões de m² de paisagens restauradas.