Arquiteto Michael Zanghelini busca inspiração nos materiais naturais

Ancestralidade é um aspecto referente ao que passou, aos nossos descendentes. É uma particularidade que traz as características das histórias já vividas, mas abre espaço às transformações do presente. Assim, mesclando a sofisticação dos materiais nobres e ao mesmo tempo sua rusticidade, o arquiteto Michael Zanghelini apresenta o Loft Naturalle em sua terceira participação na CASACOR / Santa Catarina – Florianópolis. A mostra catarinense está em cartaz até o dia 29 de agosto no Espaço +UM, na SC-401.

Michael vem desde a primeira participação na mostra imprimindo a relação direta com a natureza, o que ela representa e, principalmente, de onde vem e para onde vai. “Estou falando da natureza e suas características. Respeitei a madeira natural, o mármore e seus recortes, as cores que foram surgindo… As pessoas também fazem parte da natureza, como esses elementos, cada uma à sua maneira. O ambiente está apto a receber a todos com as suas características. É um lugar de harmonia, para todos os fragmentos da natureza”, aponta o caminho de suas criações.

Material que o destacou na edição do ano passado no projeto Janelas CASACOR, a madeira protagoniza a suíte do loft de 80m², do chão ao teto. E ele resolveu quebrar o padrão ao preencher esta caixa: em estado natural, a madeira Tauari surge sem tratamentos ou procedimentos, executada de forma artesanal, única. O cheiro amadeirado no ar transporta a lembrança até as casas da infância, até o passado. Há um reconhecimento imediato de que, literalmente, se encaixaria em projetos de hotéis e casas de campo, onde conforto, elegância e natureza se entrelaçam.

A elegância quase monocromática da suíte se completa com a cama em couro, também natural; a rouparia criada pelo próprio arquiteto, a partir de diversos materiais; e os balcões em marchetaria. No ambiente, cuja iluminação em LED o rasga pela metade criando um efeito único de relaxamento, há também uma poltrona convidando ao descanso.

E a madeira segue seu percurso do quarto para o banheiro, separados por uma nostálgica divisória de perfil metálico preto em vidro canelado. Michael criou para a bancada um bloco monolítico de mármore branco, embaixo de criativos espelhos emoldurados também em madeira. O banho ganhou ainda uma seleção de velas que, acesas, acalmam ainda mais a imersão no spa.

A suavidade de um brise de madeira maciça faz, além de um jogo de luz e sombra, a divisão entre a suíte e o living do Loft Naturalle. A cada passo, revela ou esconde o outro lado. Está neste espaço mais uma ousadia do arquiteto. Grandes placas de mármore, em recortes propositalmente rústicos, revestem as paredes como uma obra de arte. Michael conta os bastidores desta ideia: 

“Quando fomos escolher o mármore, vi várias peças quebradas, na área de descarte. Foram essas que escolhi, inclusive como uma ação sustentável, para trabalharmos bastante em cima delas. São vários remendos e vários processos que resultaram nesta combinação, valorizando ainda a execução e a mão-de-obra”, relembra e reforça a importância de toda a equipe e dos parceiros envolvidos na mostra.

Sob o piso de mármore e de estratégicos tapetes que não ofuscam a visão, o sofá deságua no ambiente com seu tom cru e suas formas inspiradas na natureza e nos seixos dos rios que se equilibram com o movimento da correnteza. Integram ainda o ambiente a poltrona Baixa, de Guilherme Wentz, e os bancos pretos que lembram toras, feitos de madeira carbonizada com a técnica japonesa Shou Sugi Ban, de mais de 300 anos.

Ao desviar o olhar para o teto do living, outra criação do arquiteto. Incrustados nos veios da madeira Tauari, perfis de LED baby criam uma iluminação sofisticada e surpreendente – “Como as frestas de luz das casas antigas de madeira”, completa Michael -, acionada por comando de voz ou por pontos. A tecnologia encontra a natureza em sua essência.

O ponto de cor mais forte no loft vem da cozinha, que deixa de lado somente a versão de serviço para funcionar também como um local de encontro e das reuniões virtuais do home office. Intenso e elegante, o verde Amazônia domina, principalmente, os espaços planejados que reúnem, mais uma vez, uma cuidadosa seleção de artistas visuais catarinenses. Como sua galeria pessoal, Michael reúne obras de nomes consagrados do porte de Eli Heil, Suely Beduschi e Vera Sabino a novos expoentes como Rodrigo Cunha e Juliana Hoffman . A visão artística feminina de Sara Ramos e Jana Garcia também aparecem na curadoria. Ainda ali, diante se sua própria história, o arquiteto dispõe algumas peças de seu acervo pessoal. E mais uma vez o mármore se completa com o tronco de madeira sustentando a mesa com seus veios naturais.

A ancestralidade defendida por Michael Zanghelini percorre o entendimento de que o passado depende de um futuro sustentável: “Tem um ponto importante ao longo da minha carreira. Eu não acredito que devemos fazer uma mostra e jogar depois tudo fora. Pelo segundo ano, quando acabar a CASACOR cada peça já tem um destino certo, toda a madeira, todo o mobiliário, as pedras e boa parte dos painéis de mármore. Todo o processo é pensando em ter utilidade, é uma consciência alinhada com os fornecedores. Usar do começo ao fim e não ter nenhum tipo de desperdício”, finaliza.