Yugen, um importante conceito da estética tradicional japonesa, é expressão de
profundidade, do que não pode ser traduzido, do incompreensível e do abstrato que transita da filosofia à arte. Através da contraposição da sombra com os intervalos de luz que produzem as janelas e a superfície iluminada da cozinha, através da paisagem oculta que eventualmente se revela, Casa Yugen faz um convite não verbal ao espaço em que se pode vislumbrar a beleza do mistério do universo e de nossa condição humana.
A parede curva do hall de entrada, com seu formato e tonalidade, cria no lado
côncavo um “plano” infinito, que oculta a paisagem. Transitar pelo hall e ver as
esculturas do estúdio Lopomo posicionadas quase de forma cronológica, convida a apreciar um pouco do mistério, do contraste, de paisagem que se revela aos poucos. A parede também, quando vista de dentro do ambiente cria um eixo de centro que desenrola a área social sem quinas, de forma orgânica.
O espelho d’água diante das longas janelas, reflete os macro bonsais que parecem flutuar e o céu do dia. A textura e a luz natural variam de forma muito marcada, criando uma nova paisagem com texturas de sol e de água ao longo dos dias. Em todos os cantos da planta em ‘L’ os espaços interagem. A forma inusitada como foi posicionada a poltrona Ramona de André Gippi, se comunica com a sala de estar, enquanto a sala se abre para a antessala e a cozinha/sala de jantar. As paredes escuras que abraçam o ambiente emolduram as janelas iluminadas, o quadro de Rubens Oestroem, a cozinha, os móveis, a decoração, o chão e o teto, o céu e a terra. O claro-escuro como forma de brincar com o conceito, em que elementos se evidenciam, se ocultam e mimetizam nas superfícies, de forma que brinca com o protagonismo das peças; na sala de estar o sofá e a mesa de centro se fundem ao tapete que se funde ao chão. A estante escura, como fica composta, faz mimica do horizonte da parede oposta, com livros virados, saberes ocultos, e a água que também se faz presente no bar e na obra ‘Ponta do Coral I’ de Alessandro Gruetzmacher.
As linhas que ladeiam as janelas se repetem ao longo do ambiente, aparece também na estante e no armário da cozinha. Elementos verticais que funcionam como guias visuais ao longo da Casa Yugen.
A falsa seringueira, proporcionalmente grande para um espaço interno, funciona como marco físico e visual entre estar e cozinha. A escolha das vegetações em formato grande também brinca com as escalas. Num conceito sempre adotado pelo arquiteto em que o meio natural e o construído, as plantas com a vista da janela, a luz natural e a das luminárias devem se enriquecer mutuamente.
A cozinha, com um plano de fundo purista off White e branco, com a iluminação da prateleira translúcida, evoca a luz das janelas que não possui. Esta é pontuada com a ilha Quartzo Nilo, orgânica e escura como um monolito que foi apropriado pela casa e toma uma função. Nela estão a cuba e escorredor deca que
parecem ter sido esculpidos no volume.