Muitos são os interesses elaborados durante uma viagem, sejam pontos turísticos, cultura e gastronomia, por exemplo. Unindo turismo, aprendizado e pesquisa, os arquitetos Maria Graziella de Oliveira e Allan Chierighini, do Progetta Studio de Arquitetura e Urbanismo, de Florianópolis, desvendaram recentemente a Áustria a partir de duas visitas específicas: ao projeto Bus:Stop, que envolveu designers locais e internacionais na criação de pontos de ônibus; e às fábricas da Blum, uma gigante mundial na produção de soluções funcionais em ferragens.
Na primeira incursão aos país da Europa Central, os arquitetos desembarcaram em Krumbach (Voralberg), a pequena cidade de pouco mais de mil habitantes que entrou no mapa, principalmente dos profissionais da área ou apaixonados pelo tema, ao lançar um concurso em 2014 para a criação de sete novos pontos de ônibus. A parceria entre arquitetos reconhecidos internacionalmente e artesãos locais deu início a um bem-sucedido projeto de turismo e valorização da região.
“O Bus:Stop traz à tona o urbanismo da cidade, o pensar a cidade e a relação com seus usuários. Nada mais instigante e rico do que fazer situações de uso coletivo se tornarem uma via de arte e reflexão. Esse concurso trouxe a nós a importância da qualidade de design, função e estímulo que a arquitetura deve trazer em todo seu potencial”, destaca Graziella, revelando ainda que se sentiu em um museu a céu aberto.
Para Allan, iniciativas semelhantes poderiam ser aplicadas na capital catarinense de diversas maneiras, tanto a partir de incentivos governamentais quanto privados:
“Deveríamos ter incentivos para a implantação de transportes aquaviários entre a ilha e o continente, com diversos pontos na cidade ou entre os municípios, por exemplo. Esses pontos de embarque e desembarque poderiam ser marcos projetados em concursos, com diferentes ganhadores, criando um link com o projeto austríaco”, defende.
Entre os pontos de ônibus, a criação do arquiteto chinês Wang Shu, um abrigo de madeira inspirado nas antigas câmeras escuras fotográficas, foi a que mais chamou a atenção do arquiteto: “Pelo projeto ousado, com diferentes percepções, dependendo do ângulo do observador ou do usuário que está ali aguardando o ônibus. Realmente um projeto sensacional que se identifica conosco”. A arquitetura local, entre um deslocamento e outro, não deixou o radar dos profissionais catarinenses, principalmente suas curiosidades, sempre atreladas ao dia a dia dos moradores e suas rotinas.
“A natureza impacta na arquitetura local e define acabamentos, formas e soluções para o morar. Cada edificação precisa de resoluções para o frio e a neve iminentes, e isso define um padrão de repetição”, relembra Graziella, destacando ainda o revestimento das casas a partir de madeiras claras que, por conta da neve, ficam escurecidas com o tempo, e os telhados de duas águas, feitos para não armazenarem o gelo que se forma no inverno.
Resumidamente, Grazi define o país como admirável em todos os aspectos: “O que mais se destaca é a preocupação com a funcionalidade e a qualidade em tudo o que fazem. Se é para ser feito, que seja da melhor forma”.
Mercado e público-alvo
A outra parada dos arquitetos, em Bregenz s e Dornbirn, foi percorrer as fábricas e as áreas de criação da Blum, empresa que começou há mais de 60 anos produzindo ferraduras para cavalos e atualmente figura entre as maiores do mundo na confecção de ferragens e soluções de mobiliário. São 2,1 mil patentes e cerca de 8,8 mil colaboradores por todo o globo.
Participar ativamente do reconhecimento de uma marca tão importante é uma contribuição de grande valia para a rotina dos profissionais, avalia Allan.
“Nós precisamos especificar o melhor para os usuários, claro que dentro dos limites econômicos de cada cliente, mas sempre o mais seguro e livre de manutenção possível. E receber treinamentos dos acessórios diretamente da fonte é o que todos os arquitetos precisam para melhorar os projetos continuamente”.
As inovações da Blum – cujo carro-chefe de suas produções são as dobradiças, líder mundial – servem para dar ênfase e usabilidade aos ambientes complexos que os arquitetos desenham:
“Temos a tendência de fazer closets e cozinhas com grande capacidade, entre outros espaços. Ter ferragens e acessórios de qualidade como a Blum permitem o projeto ser durável e de alta eficiência”, destaca Graziella. Ela vai além, rememorando as evoluções dos acessórios nestes mais de 15 anos de atuação do escritório de Floripa: “É perceptível o quanto o mundo mudou, as exigências são cada vez mais voltadas para usos diversos e integrados aos ambientes e a diferentes funções ao mesmo espaço. E o mobiliário sempre é o produto de maior usabilidade. Conhecer a história e trajetória da Blum é conhecer a evolução do tempo”.
Vivenciar a rotina dos laboratórios criativos da empresa austríaca foi ainda uma experiência que permitiu o diálogo das pontas de criação entre o arquiteto e a fábrica.
“Ali pudemos dialogar sobre alguns desafios que o mercado e o público-alvo necessitam e exigem em um projeto. Foi uma oportunidade única e muito enriquecedora para todas as partes”, finaliza.
Texto: Cristiano Santos
Fotos: divulgação/Progetta Studio