Os sentimentos na quarentena estão à flor da pele – e você pode encontrar um pouco de conforto na sutileza musical de Silva, que acaba de lançar seu sétimo álbum, Ao Vivo em Lisboa.
Criado a partir da sua turnê na cidade portuguesa, feita em 2019 no Cineteatro Capitólio de Lisboa, o disco revela uma versão mais madura da sua voz acompanhada apenas de um violão. “Comecei a cantar mais em casa, me ouvir mais, acreditar na minha voz. Essa proposta de voz e violão me fez me aproximar mais das nuances dela e do próprio público, que parece vibrar junto com você”, conta Silva.
A vibe “acústico”, com a presença vibrante dos portugueses, torna a experiência ainda mais gostosa de escutar, principalmente acompanhada de um bom drink. “Resolvi lançar esse disco agora porque achei que caberia ao momento que estamos vivendo”, explica. “Recebo muitas mensagens de fãs agradecendo e relatando que as minhas músicas os ajudam em momentos de ansiedade. E esse exercício de tocar sozinho fez muito bem, inclusive, para a minha saúde mental.”
Ao Vivo em Lisboa passeia por músicas conhecidas de Silva, como Júpiter, faixa estrela do álbum por, justamente, propor um diálogo atual com o momento em que estamos vivendo. Apesar de ter sido lançada em 2015, os versos flertam com 2020. “Ela tem esse contexto de escapismo. Carrega uma visão mais jovem, mas ainda assim continua fazendo sentido. Temos fatos e tragédias acontecendo ao nosso redor: com tudo isso dando errado, o que a gente faz agora? Vamos para Júpiter”, diz ele.
Além das faixas já conhecidas, Silva também propõe um passeio pela história da música brasileira, com suas versões de Pixinguinha, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Martinho da Vila e Marisa Monte. “Acho muito importante trazer essas referências, porque muita gente, principalmente o público mais jovem, não conhece as músicas desses grandes artistas. É um mergulho na nossa MPB”, define.
“Clarice Lispector disse uma vez: ‘Não sou uma profissional, sou uma artista. Escrevo quando a ideia vem e dou espaço para ela vir. Porém, ela vem quando ela quer vir’. Não é porque todo mundo está parado em casa que todos estão com paz de espírito para criar. Estamos absorvendo notícias ruins o tempo inteiro. Eu não consigo compor desse jeito. Assisto aos jornais ou leio as reportagens em horários específicos, não o dia inteiro. Se não, vou acabar escrevendo coisas amarguradas e não é isso que eu quero.”