
Na noite de segunda-feira (07), a SPFW N59 foi tomada por um desfile que mais parecia um manifesto. Alexandre Herchcovitch, com sua marca Herchcovitch;Alexandre, escolheu a icônica Blue Space — casa de shows drag que faz parte da memória afetiva de muita gente em São Paulo — como cenário para apresentar sua nova coleção.
Sem lugares marcados, sem passarela tradicional e com o público de pé dividindo espaço ao redor de uma plataforma elevada, o estilista recriou o espírito de seus primeiros desfiles. Tudo ali vibrava liberdade — da estrutura ao styling, da trilha sonora ao casting.

Uma coleção feita de vontades, memórias e técnicas
A coleção inverno/primavera 2025 é intensa, fragmentada, afetiva — e, ainda assim, coesa. Herchcovitch não propõe uma narrativa linear, mas sim uma costura de desejos que se revelam bloco a bloco:
- Camisas de rúgbi oversized com cortes inspirados nos anos 1960
- Vestidos de veludo cotelê com tecidos vintage no busto
- Ternos e casacos com pegada anos 1970 e xadrez marcante
- Listras sessentistas, organza plissada e bodies neon
- Peças que remetem à moda dos séculos 17 e 18, mas com olhar contemporâneo
- E para encerrar, looks em látex que exploram o corpo sem expor a pele
A iluminação ultravioleta fez brilhar os cristais Swarovski das joias assinadas por Hector Albertazzi, criando uma atmosfera quase mística, onde a roupa também é performance.

“Não fiz tudo que quero fazer”
Durante um preview, Herchcovitch foi direto: ainda está longe de se sentir satisfeito. E isso é ótimo. Sua inquietação é motor criativo — um impulso que o mantém sempre à frente, mesmo quando repete elementos do passado.
Essa coleção é sobre não se prender a temas, mas permitir que ideias fluam, se choquem e, com sorte, encontrem harmonia. Ela é fruto de um tempo onde o foco é fluido, as referências são múltiplas e os desejos coexistem.

O Herchcovitch de sempre — agora com mais clareza
O que vimos na Blue Space foi um Alexandre que continua sendo ele mesmo: provocador, técnico, sensível. Mas agora com uma segurança maior para misturar o novo e o familiar, o comercial e o experimental. E isso não é pouco.
A coleção não tenta agradar a todos — e por isso mesmo, encanta. Porque há verdade ali. E a moda, quando nasce do desejo genuíno, pulsa diferente.