
Com quase cinco décadas dedicadas à moda e 30 anos de desfiles na São Paulo Fashion Week, Lino Villaventura é um dos nomes mais emblemáticos do evento. Natural de Belém (PA) e radicado em Fortaleza (CE), o estilista é conhecido por suas criações marcadas por texturas ricas, recortes dramáticos e uma estética que mistura referências diversas de forma única. No SPFW N59, ele apresentou sua coleção de inverno 2025 trazendo à passarela um compilado vivo de suas paixões, técnicas e memórias — mais uma vez reafirmando sua identidade autoral.

A coleção começa com uma série de looks totalmente brancos, que já revelam a complexidade de construção típica do estilista: blusas estruturadas com recortes sinuosos e casacos que flertam com a alfaiataria e o quimono. As cores vão surgindo de forma sutil, em tons de bege, cinza e preto, até que o náilon — material marcante da virada dos anos 1990 para os 2000 na trajetória de Lino — aparece em capas matelassadas, saias e vestidos de brilho acetinado, equilibrando o sintético com o orgânico.
A relação com os materiais é, mais uma vez, protagonista. Palha de buriti dourada e nervurada, bordados de folhas e flores, sobras de couro de cobra — tudo construído de maneira a exaltar a textura, o relevo e o volume. O trabalho artesanal de Lino permanece como fio condutor, dialogando com o tempo presente sem abrir mão de suas raízes.

Em uma era marcada por mudanças aceleradas e tendências efêmeras, o que para alguns pode parecer repetição é, na verdade, a consolidação de uma identidade autoral. Lino não se limita a narrativas fechadas ou temáticas rígidas — como ele mesmo afirmou em entrevista à ELLE, sua criação atual é resultado de um “mix livre de vontades, memórias, paixões e interesses mil, acumulados ao longo de toda uma vida”.

Ao final do desfile, o sentimento era de reverência. Não apenas à longevidade de sua carreira, mas à coerência estética e emocional de um trabalho que continua pulsando e se reinventando, mesmo depois de tantos anos. Lino Villaventura segue sendo um dos grandes nomes da moda brasileira — não apenas por sua técnica, mas pela alma que imprime em cada peça.